O que te leva a conviver com pessoas que te cansam?

Existem pessoas que nos cansam ou somos nós que temos dificuldade de apontar limites e dizer “não”?

Muitas vezes toleramos comportamentos que consideramos desagradáveis de pessoas próximas por um simples motivo: medo de desagradar, medo de perder afeto.

No texto “Pessoas que nos cansam“, de Luiz Marins, o autor narra uma série de comportamentos que ele considera deselegantes e cansativos:

“São pessoas que exigem atenção o tempo todo, que querem ser elogiadas o tempo todo, que desejam ser bajuladas o tempo todo. Quanta canseira essas pessoas nos dão”.

Perguntas: 1) será que as tais “pessoas cansativas” querem mesmo elogios e bajulação ou isso é uma conclusão prévia baseada em achismo? 2) será que não existe do outro lado da linha uma pessoa que tem necessidade extrema de agradar por puro medo da rejeição?

Sim, porque convenhamos, nada, absolutamente nada, nos obriga a manter relações com as pessoas. Toda e qualquer relação nasce de uma escolha e de um desejo mútuo.

Por que permanecer ao lado de uma pessoa que cansa nossa beleza?

Se estamos nos expondo a relações cansativas, relações que não nos agregam valor algum, relações unilaterais, é porque o problema está conosco, não com o outro. A escolha de permanecer ao lado de alguém ou não é nossa.

De mais a mais, tudo na vida é uma questão de ponto de vista, de perspectiva. O mito da caverna de Platão nos ensina isso há milhares de anos, mas teimamos em esquecer a lição.

Friedrich Nietzsche também apontou a mesma lição ao dizer “e aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música”.

Uma pessoa que está infeliz, insatisfeita com a própria vida; uma pessoa deprimida, desiludida, tenderá a achar que aquela que está feliz, bem resolvida e repleta de entusiasmo está querendo aparecer, chamar atenção.

Bem como uma pessoa feliz, bem resolvida e entusiasmada, tenderá a achar que a mal resolvida, desiludida e deprimida é alguém que gosta de se fazer vítima.

Pessoas tímidas, por exemplo, costumam achar que pessoas extrovertidas são ruidosas demais, falantes demais, exibicionistas demais. Já as extrovertidas costumam achar que pessoas tímidas são chatas, caretas e dotadas de baixa autoestima.

Ou seja? Em ambos os casos as conclusões podem estar erradas.

Infelizmente temos o olhar viciado e muitas vezes só conseguimos enxergar o outro através da nossa lente pessoal, do nossa concepção de mundo, de nossos valores e necessidades. Logo, se o outro é (pensa, age) diferente de mim ele é errado, desajustado, cansativo, equivocado, inadequado.

Deixar o outro, seja ele quem for, ser como ele é, pode, consegue e deseja ser, sem prejulgá-lo, é um exercício muito bonito e necessário em tempos de intolerância.

Olhar o rabo do macaco ao lado e sentar no próprio é fácil, difícil é ter coragem de olhar para o próprio rabo e remover os piolhos da longa cauda.

Um amigo (ou colega) está exigindo mais atenção do que você pode dar? Se ele é seu amigo de fato, se existe afeto entre vocês, que tal dizer a ele a verdade, explicar seu momento com delicadeza e generosidade, apontar o excesso do amigo, ao invés de mandar indiretas nas redes sociais? Será que você tem coragem de dizer a verdade ou morre de medo de ser rejeitado? Se morre de medo de dizer a verdade e ser rejeitado, excluído, quem tem afinal um problema, o amigo que deseja atenção ou você?

No caso de uma pessoa não tão próxima, que causa aborrecimentos com seus excessos, aborrecimentos apontados por Marins: já parou para se perguntar por que você mantém essa relação? Qual gozo extrai dela? Será que você não mantém essa relação somente porque necessita se sentir solicitado (obtém prazer disso) e/ou supostamente superior por ser/agir diferente?

Confesso que o número de compartilhamentos do texto de Luiz Marins me causou certo espanto. Ao que tudo indica, centenas de milhares de pessoas estão convivendo com “pessoas cansativas” ignorando o fato de que a escolha de manter tais relações é delas e que o outro não está no mundo para agradá-las, tampouco elas estão no mundo para agradar ninguém.







Mônica Montone é formada em Psicologia pela PUC-RJ e escritora. Autora dos livros Mulher de minutos, Sexo, champanhe e tchau e A louca do castelo.