O que adianta rezar o terço e sair falando mal de todo mundo?

 

Não raro, vemos falsos moralistas, que condenam o comportamento dos outros, enquanto não respeitam a própria família. Pregadores que discursam sobre ética e princípios aos quais fogem pelas sombras de suas atividades escusas. Beatos que pregam os ensinamentos cristãos, ao seu próprio modo, condenando todos aqueles que não se adequam ao que impõem, ao mesmo tempo em que nem eles próprios se comportam segundo suas regras religiosas.

A exposição mais explícita da própria vida, por meio das redes sociais, acaba forçando muitos a seguirem o discurso politicamente correto, postando o que se afina ao que as normas anacrônicas regem, mesmo que nada daquilo tenha sentido em suas convicções. Veem-se obrigados a expor ideias e opiniões que sejam mais condizentes com o que a maioria espera, com o que a sociedade julga como aceitável, com o que muitos líderes religiosos ditam como a interpretação correta e única das escrituras.

Nesse contexto, muitas pessoas acabam fatalmente se dissociando de si mesmas, mantendo uma vida dupla, uma dicotomia dentro de si, uma vez que sentem a verdade exatamente do lado oposto daquilo que falam, daquilo que fingem viver de forma transparente. Daí ser comum vermos muitos orando e decorando versículos, enquanto fofocam, maldizem, invejam, fazem mal aos outros; vermos quem condena os gays, enquanto trai a esposa todas as noites. E por aí vai.

Uma coisa é certa: o que vale mesmo é a forma como vivemos as nossas vidas, diariamente, a maneira ética e respeitosa como nos relacionamos com todos, tanto com quem temos proximidade, como com aqueles de quem não precisamos, de quem não receberemos nada em troca. E fazer isso com fé, com orações verdadeiras, é perfeito. O que dizemos, no fim das contas, é apenas o que dizemos, nada mais do que isso.

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Imagem de capa:  Stephanie Zieber, Shutterstock







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.