Não use palavras para convencer. Use palavras para transparecer e transcender!

Imagem de capa: Cozy Home/shutterstock

Não são discursos que me convencem. Não são falas bem embasadas e estruturadas, cheias de teorias e muitas vezes sem tanta prática de coração e alma, não é isso que vai entrar em mim e fazer sentido.

Eu não quero parar para ouvir discussões, argumentos, discursos. Eu não quero ficar perdida, confusa, imersa numa cachoeira de palavras incisivas e vazias tentando preencher a minha dor, o meu momento confuso, a minha dúvida.

Eu não quero participar dessas conversas cheias de egos, cheias de vampirismos energéticos e politicagens, que encontram na minha fragilidade alimento.

Antes eu prefiro o silêncio. Eu prefiro o respiro, a ausência de companhia, a melodia do vento. Eu prefiro compartilhar a vibração sem verbete, sem nome, sem explicação. Só a sensação.

Eu não acredito mais no que sai das bocas ávidas e viciadas, amparadas em verdades de fora, que precisam se enterrar em palavras para não sentir algo além, mais profundo. Antes eu acredito no olhar que mergulhou, que flexibilizou, desestruturou, questionou tudo o que vem pronto.

Percebe os olhos falando mais que as falas? Os ‘não atos’ significando mais que os atos? O respeito às diferenças fazendo mais sentido do que o radicalismo das ideias?

Às vezes o sentimento mais genuíno se expressa em pequenos gestos, quase que involuntários, ou na delicadeza do silêncio que surge naturalmente quando dois ou mais seres se sentem humanamente confortáveis. Às vezes o que faz sentido na vida vem sem tanto esforço, sem tanto entendimento, sem nenhum convencimento; surge, agrada, encaixa e pronto.

Eu não acredito mais nos baralhos e barulhos dos meus pensamentos, nos jogos que eles encontram nessas palavras de cascas bonitas e conteúdo duvidoso.

Eu estouro, como bolha de sabão, cada um desses verbos, advérbios, adjetivos e nomes, para ver o que há realmente nessas caixinhas de presente. E eu tento, ainda que nessa fase de aprendiz, absorver para dentro desse peito o que realmente tem tutano, recheio, miolo, âmago.

Sentindo essas forças que vibram no corpo antes do pensamento, a energia que acalma e fortalece, o que toca essa pele fina de forma transparente; é isso o que busco, é isso que me aquece.

Que o que me persuada, convença, transforme, seja a luz boa, a fruta em semente, a criatividade das ideias frescas, a verdade sem entendimento.







Clara Baccarin escreve poemas, prosas, letras de música, pensamentos e listas de supermercado. Apaixonada por arte, viagens e natureza, já morou em 3 países, hoje mora num pedaço de mato. Já foi professora, baby-sitter, garçonete, secretária, empresária... Hoje não desgruda mais das letras que são sua sina desde quando se conhece por gente. Formada em Letras, com mestrado em Estudos Literários, tem três livros publicados: o romance ‘Castelos Tropicais’, a coletânea de poemas ‘Instruções para Lavar a Alma’, e o livro de crônicas ‘Vibração e Descompasso’. Além disso, 13 de seus poemas foram musicados e estão no CD – ‘Lavar a Alma’.