Não se torne aquilo que te feriu

A vida nos dá rasteiras memoráveis, as pessoas nos decepcionam dolorosamente, enquanto nos deparamos com os inumeráveis nãos ao longo de nossa jornada. A dor fortalece e a tristeza nos serve como lição de como se levantar, seguindo sempre em frente. É preciso, pois, tornar-se mais gente a cada queda, a cada lágrima, caminhando na direção contrária de tudo o que nos feriu.

Infelizmente, porém, há quem se mantenha impassível, incapaz de mudar, teimando em manter-se imutável, lutando contra as lições que devemos colher diariamente, por conta da semeadura equivocada que operamos lá atrás. E resistir à mudança, a novos rumos, ao oxigenar de idéias, ao repensar o que acumulamos, de forma reflexiva, acaba por nos endurecer, tornando-nos insensíveis, tornando-nos o espelho de tudo e de todos que nos machucaram.

Tudo o que dá errado e todos que nos roubam devem sempre nos servir como exemplos do que devemos evitar, repudiar, distanciar, fugindo àquilo tudo, na direção oposta. Quanto mais teimarmos em seguir adiante com as causas de nossos desencontros, mais nos vamos assemelhando a elas. A força esmagadora das tempestades que enfrentamos jamais deverá ser mais forte do que a doçura da sensibilidade que guia e alimenta a nossa essência.

Se nos dão as costas, continuemos olhando nos olhos. Se nos oferecem o vazio, continuemos distribuindo imensidão. Se nos ferirem com palavras, continuemos elogiando quem merece. Se nos apresentarem máscaras, continuemos sendo quem somos, pois ninguém destrói e retira aqui de dentro os nossos sonhos mais verdadeiros, a nossa capacidade de amar com sinceridade e transparência.

É preciso coragem absurda para nos mantermos convictos quanto a tudo o que podemos fazer, doar, alcançar, pois a todo momento iremos ser testados, questionados, feridos e derrubados pela pequenez das misérias alheias. Entretanto, caso consigamos nos reerguer com força e dignidade após os embates das noites demoradas de nosso caminhar, estaremos cada vez mais prontos para desfrutar do amor que tivermos semeado, porque não deixamos de acreditar em nós mesmos.







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.