Não espere que outro diga a ela o que ela quer ouvir de você

Perder tempo é algo que todos fazemos, seja com pessoas, com coisas, com esperanças, sonhos, seja com nada. É inevitável investirmos parte da gente em quem não nos merece, em lugares que nunca nos recebem, em sonhos impossíveis. O futuro é incerto, só temos o hoje com que lidar e essa sempre será a nossa tarefa mais difícil: agir corretamente, para que o amanhã não nos traga colheitas desagradáveis.

Talvez esse terreno incerto e arenoso em que vivemos, em que nada parece ser controlado por nós, em que tudo pode mudar de uma hora para outra, acabe nos tornando inseguros quanto às tomadas de decisão que encaramos a todo momento. Nesse ritmo de dúvidas e temores, infelizmente acabamos nos afastando de muita coisa que nos faz bem, de muita gente que nos ama de verdade, de muitos sonhos que estavam prestes a acontecer.

E como dói vermos escorrer por entre nossos dedos aquilo que poderia ter permanecido junto, quem era a pessoa certa para nos amar com verdade, quem viria ao nosso encontro com vontade, mas que cansou de esperar nossa demora insegura, nosso egoísmo silencioso, nossa relutância em avançar, em olhar, em dar as mãos, em mergulhar nas águas do amor que seria recíproco. Como dói remoer as consequências de nossa própria covardia.

Infelizmente, muitas vezes relutamos em enxergar o óbvio, presos entre as grades de nossas próprias inseguranças, paralisados e atados aos temores insustentáveis, por medos tolos, enquanto nos mantemos frios justamente perto de quem traz calor e intensidade. Mostramo-nos incompletos justamente junto de quem se mostra inteiro, desnudado, pronto para nos acolher com verdade.

Resta, então, somente arrependimento e remorso, enquanto assistimos ao que podia ser parte da nossa vida partindo junto a outras vidas que tiveram a coragem e a decência de estenderem as mãos, ainda que trêmulas, mas estendidas. Não podemos, portanto, deixar de viver o que nos cabe, perdendo pessoas e amores por conta das dúvidas que fazem parte de qualquer ser humano. Felizes os que se lançam, os que tentam, os que se entregam, porque, caso a investida não dê certo, ao menos atitudes foram tomadas. Porque sofrer por algo que nem foi demonstrado ou tentado é peso que se leva para a vida toda.







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.