HOJE, É AMAR- por Carlos Lobato

HOJE, É AMAR

Quando percebi a razão do dia de hoje,

alterei completamente o significado da vida.

Olhei para mim, no espelho do quarto.

O quarto. Um dos meus Templos.

Eu, omnipresente de todas as minhas coisas,

não flutuo na passiva vaidade que me reflete.

Reflectir é uma história permanente.

Reflectir, reflexo, uma mistura estranha.

A tendência é criar confusão e certezas comigo.

A grande maioria das pessoas é tão diferente de mim,

ao ponto de confundir reflexão com depressão.

E eu. Eu, o meu próprio Ego e único proprietário,

confundo-me com a lógica que os outros não entendem.

Se saio à rua, esta minha rua que não gosto minimamente,

absorvo a monotonia sincronizada, os hábitos das pessoas.

Há apenas vidas mecanizadas, cheia de sons surdos e,

movimentos animados por uma imaginação pouco fértil.

De resto, há um espelho que os reflete e,

por isso, vivem sempre virados do avesso.

Só eu sou diferente de todos os outros,

até de mim (do outro). Torno-me eremita do meu Ego.

Só o mar me entende, às vezes.

Só o Sol me aconselha, tantas vezes.

De resto, degusto toda a beleza da vida,

quase toda e, por inerência assimilada,

pairo no ar, no espaço e, no meu interior.

Hoje, afinal, é um dia feliz. Como todos os outros.

Os receios, morrem assim que abro a janela do quarto.

O primeiro brilho que me invade, cega-me e,

é um recarregar de baterias, uma reciclagem própria,

que me faz cantar, que me faz escrever e,

amar cada vez mais, este privilégio da vida.

Quando percebi a razão do dia de hoje,

reaprendi pela milionésima vez,

que a vida não acontece, vive-se!

08 de ABRIL, 2014

Carlos Lobato

Nota da CONTIoutra: O poema acima foi reproduzido com a autorização do autor.

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Carlos Lobato, nascido em 1962 em Lisboa, teve o privilégio de fazer farte de uma geração jovem que viveu a transição do antigo regime em Portugal para a nova democracia, em Abril de 1974. Tempos conturbados de escola, onde o caos imperou durante alguns anos de liceu, mas com a sorte e aproveitamento de entrada no país “da cultura que se fazia lá fora”, assim como o desenvolvimento nacional das artes da escrita, música, teatro, pintura, que aos poucos foram conquistando o espaço cultural nacional, tão vazio até então. Usufruiu do negócio livreiro do pai, na altura, onde o prazer pela leitura e escrita se enraizou pelo fácil acesso a obras literárias. A escrita sempre fez parte da sua vida, não se tendo nunca preocupado em guardar o que escrevia, até muito recentemente. Habita atualmente em Londres no Reino Unido. (Fonte)

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