Guardar mágoas equivale a armazenar lixo dentro de casa

Se o mega superior diretor da companhia que recolhe o lixo resolver ficar “de boa” na casa dele por três dias, isso não vai fazer nenhuma diferença na minha vida, na sua vida, na vida de ninguém.

Mas imagine se os valorosos garotos e garotas que fazem o importantíssimo trabalho de recolher o que jogamos fora, para fora de nossa casa, resolvessem fazer o mesmo… Três dias de acumulação de coisas que entraram na categoria de descartáveis…

O lixo acumulado não ocupa apenas espaço. Ocupa o ar que respiramos. Torna-o pesado, desagradável e mau cheiroso. Ninguém guarda lixo dentro de casa – a menos que seja um acumulador patológico, é claro!

Então… Por que cargas d’água nos permitimos guardar mágoas. Originada do latim “macula”, mágoa retém o antigo significado de “mancha”, “nódoa”. Um coração magoado deixa a gente maculado por dentro; ficamos marcados pelo mal que nos fizeram.

O pior de tudo é que isso pode vir a ser um vício. Há gente que coleciona mágoas. Guarda-as com todo desvelo em caixinhas bem forradas e protegidas. Oferecem a elas um lugar de honra no próprio peito. Concedem a elas audiências regulares. Visitam-nas. Revivem-nas.

Viver magoado é dispor-se a carregar dentro de si, as consequências de situações que geraram sofrimento. É como viver num vale entre montanhas, prisioneiros de um eterno ecoar de uma dor que já devia ter parado de doer.

É preciso aprender urgentemente um jeito de liberar espaço na alma. Ninguém pode experimentar a alegria, quando vive a ruminar tristeza. Ninguém pode ver graça na vida, enquanto ficar perpetuando as inevitáveis desgraças.

Por outro lado, ninguém pode ser tão tolo a ponto de não perceber que se uma coisa lhe pesa demasiado nos braços, depende de sua própria escolha continuar a carregá-la ou simplesmente livrar-se dela.

Façamos escolhas mais amorosas sobre o que vamos levar conosco na bagagem dos dias. O que nos fez sofrer fará parte da nossa história, não há como escapar disso. As maldades alheias nos transformam mesmo.

O que está feito, está feito. No entanto, depende apenas de nós o lugar que vamos destinar ao reflexo dessa dor. Guardar mágoas no peito, equivale a armazenar lixo dentro de casa. Isso vai apodrecer, contaminar todo o resto. O resto que inclui as coisas lindas que a gente deixa de viver porque ficou apegado demais naquilo que nos fez doer.

Feche os olhos por um instante. Uns minutinhos apenas. Escolha uma mágoa ou duas e dê a elas a alforria. Coloque-as com todo seu amor dentro de balões coloridos de gás e deixe-as ganhar o céu. E faça um esforço para nunca mais chamá-las de volta. Mágoas são bichinhos domesticados. Se você lembrar delas, elas são bem capazes de achar o caminho de volta.







"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"