A gente achava que já tinha visto de tudo; a gente não viu é nada!

Imagem de capa: Sofia Zhuravetc

A gente achava que as pessoas pudessem escolher quem elas amariam, sem julgamentos alheios. A gente achava que podia perdoar e que não mais voltaria a enfrentar a mesma decepção repetidamente. A gente achava que não seria machucado de novo e de novo pelas mesmas pessoas.

Sabe aquela velha história de que, quando pensamos já ter todas as respostas, vem a vida mudar todas as perguntas? É assim com tudo, porque nunca estaremos preparados para ver, ler ou ouvir certas coisas, que achávamos serem inconcebíveis. No entanto, quanto mais se vive, mais se surpreende com o que se tem pela frente.

A gente achava que ninguém mais daria algum tipo de importância à etnia, à cor da pele, à proveniência de alguém, como se isso pudesse dizer alguma coisa sobre as pessoas. Infelizmente, velhos e danosos estereótipos ainda persistem em muitos meios sociais, onde negros são tidos como menos capazes, nordestinos são tidos como preguiçosos, estrangeiros são tidos como ladrões de emprego.

A gente achava que a pessoa pudesse escolher quem ela amaria, que pudesse amar quem fosse, onde estivesse, da forma que lhe fosse melhor, caso não estivesse importunando ninguém. Infelizmente, grande parte das pessoas ainda não consegue aceitar relacionamentos que não se enquadrem nos preceitos religiosos ou nos manuais de etiqueta dos séculos passados.

A gente achava que vivia em um regime democrático, num país de livres escolhas partidárias, de autonomia política, sem que precisássemos ser ofendidos e agredidos verbalmente pelos eleitores dos outros partidos, com escárnio e, por vezes, até mesmo através de agressões físicas. Infelizmente, principalmente nas redes sociais da internet, assiste-se a uma troca de farpas violentas, num ambiente intolerante e cínico.

A gente achava que podia confiar nas pessoas, em casa, no trabalho, na vida, e que o nosso melhor não seria devolvido da pior forma, justamente por quem mais nos era especial. Infelizmente, muitas pessoas ainda não conseguem – porque não querem – ser leais, invejando o que o outro tem ou é, porque simplesmente não conseguem enxergar nada de bom em si mesmas.

A gente achava que podia perdoar e que não mais voltaria a enfrentar a mesma decepção repetidamente, porque o perdão faria o outro repensar suas atitudes. A gente achava que não seria machucado de novo e de novo pelas mesmas pessoas. Infelizmente, muitos indivíduos não são capazes de aprender, porque não querem, porque não acham ser necessário, porque simplesmente não sabem olhar para nada além de suas próprias necessidades limitadas. Não crescem, não amadurecem, continuam brincando enquanto vivem, utilizando pessoas como brinquedinhos descartáveis.

Viver é uma aventura cheia de surpresas, muitas delas negativas. Felizmente, teremos também muita coisa boa vindo ao nosso encontro, todos os dias, e é por isso que sempre valerá a pena viver com amor e esperança. Apesar de tudo e de todos.







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.