“Fechei os olhos e pedi um favor ao vento: leve tudo que for desnecessário. Ando cansada de bagagens pesadas…”

Ontem fui à cabeleireira e retoquei as luzes que venho fazendo há algum tempo. Ao chegar em casa, ainda me adaptando à nova imagem refletida no espelho, comentei com meu marido sobre o significado dessa mudança. Muito mais do que disfarçar os fios brancos que aumentam ano a ano, a alteração na aparência reflete um processo interno que venho passando, e dá boas-vindas a um tempo de menos enganos e mais certezas; de menos inseguranças e mais amor próprio; de menos mimimi e mais hahaha.

Às vezes a gente se engana. Perde tempo e energia travando batalhas intermináveis com os traumas do passado, com as rejeições que sofremos, com as decepções que tivemos. E não percebemos que uma vida bem vivida é feita de peças que têm encaixe, ao lado de pessoas que nos querem bem, experimentando sensações que nos deixam em paz.

Se uma peça não está se encaixando, não devemos forçar o encaixe. Isso causa um desgaste enorme, diminui a fé que temos em nós mesmos, nos submete a uma situação embaraçosa e desnecessária. É como ser tamanho 40 e querer entrar num jeans 34. Você não precisa disso, esse não é o último jeans da face da Terra, e definitivamente é constrangedor demais desejar algo que não te serve. Quanto antes você entender isso, mais cedo irá perceber que às vezes a vida nos frustra de um modo inimaginável, mas antes de insistir naquilo que não nos cabe, é importante que saibamos qual lugar queremos ocupar. Geralmente, as pessoas mais felizes são as que ocupam os melhores lugares em suas próprias vidas.]

Quando decidimos ocupar o melhor lugar em nossa própria vida, aprendemos a recusar qualquer situação que nos diminua, e já não dependemos mais da aprovação alheia para nos sentirmos em paz. As críticas são bem-vindas_ desde que nos estimulem a crescer_ e as inseguranças do passado dão lugar a uma aceitação enorme de nossas incompletudes e um orgulho imenso de nossas conquistas. Aprendemos a nos respeitar e rejeitamos tudo aquilo que nos fere ou subestima.

Precisamos desistir de alguns sonhos, lugares e pessoas se quisermos o melhor para nós mesmos. A vida é feita de ciclos, e a melhor maneira de seguir em frente é com a bagagem leve, fácil de carregar. Preste atenção ao que você deseja daqui pra frente. Preste atenção às pessoas que você realmente quer ao seu lado. E, sem um pingo de culpa, se livre de pesos desnecessários.

Hoje quero que o vento bagunce meu cabelo e me ensine a ser leve. Que eu aprenda a suportar o tempo finito de cada coisa e entenda a partida de tudo que não é eterno. Que o vento me ensine a deitar no colo do Pai e deixar que Ele tome conta. Que eu tenha paz. Que eu aprenda a fechar meus olhos e confiar. Que eu deixe de querer controlar tudo. Que eu possa esvaziar minha casa, meu guarda roupa, minha agenda e meu espírito daquilo que é excessivo e desnecessário. E que, restaurada por repentina leveza, eu possa ignorar o que não acrescenta e valorizar o que realmente importa…

* A frase título deste texto tem sido erroneamente atribuída à Cora Coralina. Porém, a frase não consta no acervo da autora, e é de autor desconhecido (informação obtida no site “Pensador”)

Imagem de capa: Masson / Shutterstock

Para comprar meu novo livro “Felicidade Distraída”, clique aqui.







Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.