Envelhecer é poder andar nu

Viver é envelhecer, nada mais.
– Simone de Beauvoir-

Envelhecemos todos os dias, cada dia um pouco mais. Tudo o que foi composto será decomposto, basta começar a existir. A resistência em aceitar o envelhecimento, a busca pela mocidade eterna e a esperança de infinitas paixões lotam os consultórios de estética e espalham angústia por todos os cantos.

Bobagem, envelhecer é inevitável. Esqueça o que passou e aproveite as rugas, esses sulcos de caminhadas feitas. Sim, é uma delícia cuidar da aparência, ter saúde, passar cremes no rosto e no corpo, tudo isso é deliciosamente prazeroso, mas sem exageros, sem ilusões de parar o tempo. Coma todos os bombons que o colesterol permitir, brinde com todos os amigos do presente, tenha dias de preguiça sem culpa, e viva!

Se envelhecer nos assusta tirando de nós a rapidez e a pele lisa, envelhecer também nos traz presentes únicos: ficamos mais livres e perdemos menos tempo com o que não nos agrada. A paciência chega e o olhar menos crítico também. Conseguimos nos reconhecer nos erros dos mais jovens, mas se a paciência nos chega, uma dose de impaciência também se impõe, aprendemos a ser mais seletivos, e os que ficam são apenas os amigos leais , os abraços sinceros e os amores gentis.

Se já não se pode correr em desvario, em contrapartida, aprende-se a ter uma nova pressa, não se perde mais tempo com equívocos de críticas vazias. O tão danoso verbo “comparar” vai sumindo até já não ser conjugado, não há tempo para comparações, só há tempo para a vida.







Luciana Chardelli é carioca, jornalista, escritora e advogada pós graduação em Direito Penal e Processual Penal. É autora do livro "Penso, logo insisto. Um desencontro." Escreve também na Revista Obvious.