Entendendo o processo de compulsão alimentar

Por que será que a nossa mente teima em nos levar para a comida quando as coisas não vão bem?

Não é novidade para ninguém que a compulsão alimentar é filha da ansiedade. Mas por que será que quando ela bate, nunca queremos um prato de salada?

Porque, em geral, a compulsão alimentar é casada com o “pensamento gordo”.

Leia os tópicos abaixo e registre, sinceramente, quantos deles representam sua maneira de pensar.

1. Se você compartilha memes e textos que enaltecem o prazer de comer besteiras e a falta de vontade de fazer atividade física

2. Se toda vez que acontece algo positivo, você pensa em comemorar comendo alguma coisa gostosa (e nada saudável) para “se presentear”

3. Se toda vez que acontece algo negativo, você pensa em comer um docinho ou algo gorduroso para “se mimar”

4. Se acredita que todas as pessoas que se alimentam de forma saudável são neuróticas e vez ou outra faz piada sobre o assunto

5. Se você malha somente para poder comer mais

6. Se você decide fechar a boca, mas continua ingerindo bebida alcoólica, sabotando, assim, sua dieta

7. Se você come os restos (de batata frita, por exemplo) que seus amigos, namorados (as) ou filhos deixam no prato

8. Se você faz dieta, mas no dia liberado (o famoso dia do lixo) se entope de todas as porcarias que não comeu durante a semana de uma só vez

9. Se a privação de algum alimento (como massas refinadas e doces) representa tortura e punição

10. Se você culpa alguém ou alguma situação (que não seja alguma disfunção fisiológica) pelo fato de ter engordado

Se você assinalou mais de três das alternativas acima, isso quer dizer que sua compulsão alimentar pode estar casada com o pensamento gordo. Aliás, você pode ser magérrimo e alimentar pensamentos gordos, sabia? A boa notícia é que é possível mudar esse padrão de condicionamento.

Tendemos a “pensar gordo”, quando aprendemos que a comida é uma recompensa, um cobertor quentinho para onde podemos correr quando as coisas não vão bem.

Quando aprendemos que a única fonte de satisfação imediata possível – portanto, anuladora de frustração – é a comida.

Se nós criamos a nossa realidade a partir dos nossos pensamentos, antes de mudarmos nossos corpos precisamos mudar nossos pensamentos, pois ao mudarmos nossos pensamentos conseguimos mudar nossas atitudes. Não se trata de magia, tampouco de lei da atração, trata-se de um processo mental de condicionamento, largamente estudado pela Psicologia Comportamental.

Antes de fazer dieta ou se matricular numa academia, é preciso repensar a relação que estabelecemos com os alimentos.

Se a comida (ou a bebida alcoólica) for a única fonte de conforto emocional que conhecemos – ou seja, que a nossa mente aprendeu -, dificilmente vamos deixar de ser vítimas do efeito sanfona, por exemplo.

Será preciso testar, com paciência e perseverança, novas fontes de conforto emocional para que a nossa mente aprenda novos caminhos para onde correr quando a frustração e/ou a ansiedade baterem.

Ao compartilhar memes e textos que enaltecem o prazer de comer mal, por exemplo, estamos enviando, sem perceber, um reforço positivo para a nossa mente, dizendo “continue assim, tamu junto”. Ao comprar um bolo de chocolate para comemorar uma nova conquista, estamos reforçando o padrão de recompensa em nossa mente. Ao comer uma pizza inteira somente porque estamos tristes e precisando de colo, idem.

Existem situações (ou pessoas) que nos desestabilizam, nos fragilizam, mas a escolha de usar a comida como conforto, como antidepressivo, como recompensa, é nossa. Ninguém colocou o pote de sorvete em nossas mãos. Culpar o outro não vai resolver o nosso problema, até porque ele não poderá emagrecer por nós.

Treinar a mente é mais importante do que correr numa esteira quando se quer perder peso e/ou vencer a compulsão alimentar.

Uma dica bacana é tentar observar o que estamos sentindo, o que estávamos fazendo e pensando quando tivemos o impulso de abrir a geladeira ou sair para comprar um milkshake.

Esse exercício simples nos fará observar quais emoções nos levam à comida.

Medo? Raiva? Rejeição? Frustração? Culpa? E conhecendo nossas emoções, podemos fazer contato com elas e enfrentá-las, além, claro, de descobrirmos novas formas de lidar com elas.

O próximo passo seria perceber o gatilho e questionar: “Estou com fome ou com medo”? “Estou com fome ou com raiva”? “Há quanto tempo fiz minha última refeição”? Se a resposta for “medo” ou “raiva”, optar por não comer.

Quanto mais nos conhecemos e estamos conscientes das nossas emoções, necessidades e motivações, mais temos a chance de mudar nossos comportamentos, atingindo, assim, nossos objetivos – isso vale para tudo, não apenas para a perda de peso ou compulsão alimentar.







Mônica Montone é formada em Psicologia pela PUC-RJ e escritora. Autora dos livros Mulher de minutos, Sexo, champanhe e tchau e A louca do castelo.