Amigos invejosos

Tendemos a confundir inveja com cobiça. Inveja é não querer que o outro tenha, seja lá o que for: inteligência, amor, dinheiro, um corpo bonito, um cabelo bonito, namorado (a), sorte, sucesso, roupas bacanas, viagens, etc. Cobiça é querer o que o outro tem.

Mas ambas as emoções se misturam porque são frutos do mesmo engano: a ideia de que o outro não merece o que tem e/ou não o fez por merecer.

Outro engano? Negar a presença dessas palavras no vocabulário de nossa própria vida, porque todos nós sentimos inveja e cobiça em algum momento, elas fazem parte da condição humana.

Perceber que um amigo tem o que (supostamente) nos falta mexe com o nosso sentimento de impotência e ninguém gosta de se sentir impotente.

Então, para não lidar com a impotência-nossa-de-cada-dia tiramos o foco de nós mesmos e botamos no outro! Sentimos raiva – ainda que veladamente – do outro e do que ele possui, pois é mais aceitável sentir raiva do outro do que de si.

Seria muito bacana se conseguíssemos refletir sobre as nossas faltas quando a inveja e a cobiça nos assaltam. Seria proveitoso. Quem sabe não conseguiríamos, através de um mergulho pra dentro, transformá-las em ganhos?

Olho grego, pimenta dedo de moça e figa podem ajudar? Podem, mas não impedem que sintam – ou sintamos – essas emoções.

Quem se sente vítima de inveja constantemente também deve experimentar uma pausa para reflexão: será mesmo que “aquela amiga” tem inveja de você ou simplesmente você está com a autoestima baixa e precisa acreditar nisso para se sentir bem?

Acreditar que alguém nos inveja, em alguma instância, é acreditar que somos “merecedores” dessa inveja, que temos algo valioso que o outro não tem. Será que temos mesmo? Se temos, por que precisamos da inveja alheia para validar nosso status?

Sentir-se invejado não deixa de ser um ato narcísico. Mas tudo nessa vida serve como matéria-prima para o autoconhecimento, basta querer! Basta estar atento. Basta estar disposto. Eis a nossa labuta diária: transformar lixo (emoções baratas) em luxo (oportunidade de crescimento).

Mas, pelo sim, pelo não, acredito que um punhado de sal grosso atrás da porta, um patuá no pescoço e um beijinho no ombro para quem anda querendo secar a nossa pimenteira não fazem mal a ninguém.







Mônica Montone é formada em Psicologia pela PUC-RJ e escritora. Autora dos livros Mulher de minutos, Sexo, champanhe e tchau e A louca do castelo.