4 características tristes de gente que faz rir

Por Lara Vascouto

Primeiro o incrível Fausto Fanti decide deixar o mundo em 2014. Depois, o lendário Robin Williams. Infelizmente, deixar o mundo cedo demais parece ser mais comum do que qualquer um imaginaria entre os que ganham a vida fazendo os outros rir. Mas não chega a ser exatamente chocante, principalmente se você sabe que…

Ser engraçado e saber rir não são a mesma coisa

Em situações como o suicídio de comediantes excepcionais, é comum ouvir o eco das pessoas se perguntando: poxa! Mas ele era tão alegre e engraçado!? Infelizmente, este questionamento é o resultado de uma confusão que as pessoas fazem entre duas habilidades muito distintas uma da outra: saber rir e saber fazer os outros rir. É claro que uma não exclui a outra, mas é mais comum encontrar pessoas que possuem somente uma delas do que as duas. Por esse motivo, da mesma forma que a pessoa de riso frouxo pode ser incapaz de contar uma piada direito, um comediante excepcional pode ser incapaz de rir honestamente de alguma piada ou, principalmente, das turbulências da vida.

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Apesar da máscara de riso que a maioria deles usa.

Obviamente, isso não significa que só porque um cara é engraçado, ele é infeliz, mas apresenta outra implicação mais profunda: nem sempre os comediantes se beneficiam das piadas que contam da mesma forma que a sua platéia. Ele não morre de rir das próprias piadas e sim se satisfaz ao ver que você está rindo e essa diferença pode acabar significando uma vida menos saudável. Um estudo sobre humor desenvolvido ao longo de sete anos com 50.000 pessoas descobriu que ter um bom senso de humor e saber rir das adversidades que a vida apresenta faz bem para a saúde de modo geral. Outro estudo, realizado com pacientes em estágio final de doença renal, descobriu que os pacientes que apresentavam um bom senso de humor tinham mais chances de sobreviver por mais tempo.

Mas como é possível um cara tão engraçado não saber rir? Bom, isso talvez tenha a ver com fato de que…

Distúrbios psicológicos e comédia andam lado a lado

Um estudo realizado pelo British Journal of Psychology descobriu que o estereótipo do palhaço triste tem um grande fundo de verdade. O estudo descobriu que comediantes e pessoas muito engraçadas, em geral, tem níveis altos de características que, em casos extremos, podem ser associadas com doenças mentais como esquizofrenia e distúrbio bipolar. As características principais incluem introversão, tendências de comportamentos antissociais, impulsivos e desinteresse em se relacionar com outras pessoas mais intimamente. De acordo com o estudo, essas características podem ser as responsáveis pelas tiradas rápidas e associações incomuns que os comediantes geralmente apresentam – enquanto nós, reles mortais, só conseguimos pensar em uma boa resposta para aquele comentário passivo-agressivo que o ex fez no bar durante a volta pra casa.

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Droga, eu devia ter dito isso! Tudo bem, ele vai ver só! É pra isso que serve SMS.

De qualquer forma, não são exatamente características divertidas de se ter em níveis mais altos do que o resto da sociedade e certamente isso tem um efeito no bem-estar do indivíduo. Afinal, não são poucos os comediantes que sofrem com abuso de drogas e depressão. Só para citar alguns: Jerry Seinfeld admitiu ter algumas tendências depressivas e afirmou ao The New York Times que “se não fossem meus filhos, eu já estaria cansado de viver. Poderia me matar. Agora tenho algo pelo que viver”; Jim Carrey luta contra depressão severa há anos; e o próprio Robin Williams entrava e saía de clínicas de reabilitação por abuso de drogas e depressão profunda.

Mais triste do que saber que as pessoas que te fazem rir sofrem de depressão é imaginar que talvez isso aconteça porque…

Muitos comediantes sofreram algum tipo de abuso na infância

Seja abuso verbal, físico ou até social – como uma inadequação generalizada na escola – fato é que muitos comediantes não tiveram uma infância feliz e, de acordo com a teoria mais aceita, descobriram na comédia um mecanismo para aguentar os demônios interiores. Estudos apontam que entre 80% e 85% dos comediantes vêm de lares empobrecidos e se sentiam incompreendidos socialmente quando crianças, vivendo muitas vezes em um ambiente de isolamento e privação de afeto por parte dos pais. O humor, descoberto ainda na infância, seria usado nessas situações como um mecanismo de defesa – uma forma de ser socialmente aceito e de se tornar querido pelos outros.

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Normalmente, o palhaço da sala de aula está sempre rodeado de amigos, o que significa que a tática do humor funciona.

É claro que isso não é verdade para todos e muitos comediantes vieram de lares felizes, mas não é nada incomum descobrir que grande parte deles é atormentada pelo passado. E esse estereótipo do comediante atormentado é tão comum porque nós já vimos muitos deles tirarem a própria vida. É simplesmente fato que…

 

Suicídio chega a ser um desfecho comum para muitos comediantes

Robin William e Fausto Fanti são os exemplos mais recentes, mas muitos outros comediantes excepcionais já passaram dessa para melhor pelas próprias mãos. Greg Giraldo morreu de overdose de medicamentos. Lenny Bruce, de morfina. John Belushi, heroína e cocaína. Chris Farley, de morfina e cocaína. Mitch Hedberg, de cocaína e heroína. Freddie Prinze se deu um tiro. Richard Jeni também. O desfecho é tão comum que Jamie Masada, dono do famoso clube de comédia Laugh Factory, estabeleceu um programa de psicoterapia dentro do clube para atender as necessidades dos comediantes. De acordo com Masada: “De Richard Jeni colocando uma arma dentro da boca e se explodindo a Greg Giraldo usando drogas até a overdose, eu não aguento assistir a minha família toda, um a um, se autodestruindo”.

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Ei, comediante! Não nos deixe antes da hora! Nós te amamos!

Nota da CONTIoutra:  Nó de Oito é uma página parceira e o texto acima foi publicado com a autorização da autora.

Lara Vascouto

contioutra.com - 4 características tristes de gente que faz rirInternacionalista, ex-Googler e fanática por ler e escrever textos bem-humorados. Optou por ser pobre e feliz na praia ao invés de rica e triste em São Paulo.

Para mais artigos da autora acesse seu blog Nó de Oito

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